Em homenagem a centésima edição do jornal, um título alfanumérico que além de combinar, pega como gancho um parágrafo da coluna anterior. E para lembrar, ficou em aberto um assunto polêmico, que é a questão do medo e sua evolução ao longo da nossa vida.
Escrevi sobre o medo na infância, quando os gritos que nos chegam de forma ensurdecedora são, na maioria das vezes, mais nocivos do que o iminente perigo. Explico: é óbvio que se estivermos com uma lata de inseticida na mão o perigo é real, porém trata-se de uma fração de segundos onde as velocidades do movimento ou do som quase que se equivalem. Naquele instante, um rápido movimento do adulto em direção a criança é, na prática, igual ao perigoso alerta do grito, que nem sempre se traduz na melhor forma de prevenção. Oposto a isso, está a sequela emocional do “NÃO” dito de uma forma tão restritiva, vindo das pessoas que mais nos são próximas, portanto, de quem mais absorvemos comportamentos. Crianças são como esponjas, dizem os grandes autores.
Seria muita pretensão querer ensinar algo, justo eu que estou aqui para aprender. Nossa educação tem seu papel na manutenção do medo, através do comportamento de alguns mestres. Sei que esse trecho do texto não foi lá muito simpático aos olhos de quem escolheu a profissão de educar. Aceito. Pois assim é e continuará sendo, até que a “ficha caia” para os muitos adormecidos. “Não dá nada”, insisto. Eis o velho jargão que desconhece qualquer compromisso ou responsabilidade.
Percebeu o que foi escrito? Antes de qualquer julgamento, me responda: de quem foi a escolha? Ah, tá bom, entendi. Não havia outra alternativa.
Onde está a culpa dos pequenos se o adulto acordou com os pés destapados? Será que a culpa não é do café que estava frio? Ou do frio que não deu espaço para que o calor do corpo esquentasse também a alma? Quem sabe a culpa deva recair sobre a bateria do carro que não pegou na hora que precisava? Não esquece que a culpa também pode ser do baixo salário. Por falar nisso, parabéns pelas conquistas, mesmo que pequenas, escassas e aparentemente insignificantes, você já agradeceu por cada uma delas? Sabia que muitos correm para concretizar apenas um desses sonhos? Agradeça. Lembrando de alguns livros e comentários ditos aqui e ali, por autoridades no assunto, deixo a reflexão: “A base do cidadão é a boa educação”. Educar melhor não é apenas alicerçar mente e corpo. É também alicerçar espírito, e isso nada tem a ver com ensino religioso. Tem a ver com uma visão mais ampla de tudo o que nos rodeia. Pela centésima vez, “não somos apenas corpo. Somos bem mais do que isso”.
Parabéns equipe do J.Tribuna. Um forte abraço e o desejo de estar aqui, semanalmente com você.